Relatório do Atlantic Council alerta para impacto no comércio, financiamento e endividamento de Moçambique
Maputo – A economia de Moçambique, já fragilizada por desafios estruturais internos, instabilidade pós-eleitoral e elevado endividamento, começa a sentir com maior intensidade os efeitos da transição económica da China, um dos seus principais parceiros comerciais e financeiros. Um novo relatório do Atlantic Council, aliado a dados oficiais do Governo moçambicano, aponta para um agravamento do quadro macroeconómico e obrigou à revisão em baixa das projecções de crescimento para os próximos anos.
O documento, intitulado “China’s Economic Slowdown and Spillovers to Africa” (Desaceleração Económica da China e os seus Transbordamentos para África), sublinha que a crise no modelo de crescimento chinês está a expor a vulnerabilidade das economias africanas, particularmente as de baixo rendimento, grupo no qual Moçambique está inserido.
Impactos no comércio e no financiamento
De acordo com o relatório, as implicações para Moçambique manifestam-se em duas frentes principais: o comércio externo e o financiamento. No plano financeiro, o cenário é descrito como particularmente crítico. A evolução do sistema financeiro interno da China, aliada a uma política mais rigorosa de controlo de risco por parte dos credores chineses, levou a uma inversão do fluxo de capitais.
Segundo o Atlantic Council, “a China está actualmente a cobrar mais em pagamentos do serviço da dívida do que a desembolsar em novos empréstimos”, uma tendência que penaliza países altamente dependentes de financiamento externo, como Moçambique.
Esta dinâmica agrava os desafios já reconhecidos pelo próprio Governo moçambicano, nomeadamente o alto nível de endividamento, as pressões fiscais crescentes e a escassez de divisas, factores que limitam a capacidade do Estado de estimular a economia e investir em sectores sociais e produtivos.
Elevada vulnerabilidade a choques externos
O relatório classifica Moçambique como uma economia de baixo rendimento, dependente de fluxos externos de capital e do comércio regional, o que aumenta a sua exposição a choques globais. O documento alerta que a incerteza é ainda mais grave para países africanos que enfrentam simultaneamente excesso de dívida, instabilidade política e fraca diversificação das exportações.
No actual “cenário de estagnação” da economia chinesa, os autores preveem uma redução da procura por bens manufacturados africanos, o que poderá dificultar os esforços de industrialização e diversificação económica em países como Moçambique.
Reforma chinesa pode abrir oportunidades
Apesar do cenário adverso a curto prazo, o relatório identifica uma possibilidade mais favorável no longo prazo: o chamado “cenário de reforma”, no qual a China transita de um modelo assente na produção intensiva para um crescimento mais lento, mas orientado para o consumo interno.
Segundo os autores, “o melhor resultado a longo prazo para África seria aquele em que a China aceita o custo da reforma, garantindo um crescimento mais estável”, criando espaço para que fabricantes africanos, incluindo os moçambicanos, conquistem maior quota de mercado em sectores de baixo valor acrescentado.
Perspectivas moderadamente optimistas
Apesar das pressões actuais, instituições multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) mantêm uma perspectiva de recuperação gradual. As projecções apontam para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de Moçambique em torno de 4,5% em 2026 e 4,1% em 2027.
Parte dessa expectativa positiva assenta no sector extractivo, em particular na exploração de minerais críticos para a transição energética. O relatório destaca que a procura chinesa por esses recursos deverá manter-se robusta, independentemente do cenário económico, uma vez que tais sectores continuam a ser estratégicos para a China e para outras grandes economias globais.

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