O dia estava sereno, marcado por um calor típico do clima tropical. Um vento leve soprava do rio Limpopo, empurrando consigo o cheiro da água turva — uma água carregada de histórias, marcada pelos pecados e descuidos das nações que por ali passaram.
O olhar perdia-se no rio enquanto aguardávamos o arranque de uma actividade simbólica: o lançamento do Cartão Mambas, uma parceria entre a Federação Moçambicana de Futebol e o Banco Comercial de Moçambique, destinada a criar novas sinergias de apoio à selecção nacional.
Do outro lado da estrada, porém, pulsava outra realidade. Corações batiam três vezes mais forte. Mulheres, jovens e homens maduros, de olhos atentos e excitados, observavam com intensidade os produtos alimentares e de higiene expostos. Era o reflexo silencioso de uma luta diária.
Há mais de dez anos que a crise económica extrema obriga funcionários públicos e trabalhadores por conta própria a reinventarem-se, adoptando estratégias de resiliência e sobrevivência. Foi nesse contexto que nasceram os grupos de poupança, verdadeiras redes comunitárias de apoio mútuo
Ao longo do ano, os membros desses grupos juntam pequenas quantias. À medida que se aproxima a quadra festiva do Natal e do fim de ano, o esforço colectivo transforma-se em cabazes de produtos de primeira necessidade, distribuídos entre os participantes. Cada membro recebe um kit composto por cebola, batata reno, óleo, arroz, feijão, leite, ovos e produtos de higiene, como sabão e sabonetes. A quantidade varia conforme o valor poupado durante o ano.
São histórias de sucesso silenciosas, que acontecem na cidade de Xai-Xai, na província de Gaza, e que podem ser replicadas a vários níveis. Assim, o povo encontra formas de se safar da crise, da incerteza salarial e da lenta recuperação económica em que a Pérola do Índico continua mergulhada.


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