Grupo de insurgentes, alegadamente vindo de Nampula, espalha terror em aldeias próximas de Impiri e Nipataco.
Pelo menos três pessoas foram mortas e quatro raptadas por um grupo de terroristas armados, na semana finda, numa área próxima à aldeia de Impiri, no distrito de Metuge, província de Cabo Delgado. O ataque é mais um sinal da persistência da insegurança que continua a assolar o norte de Moçambique, mesmo após operações militares que visam neutralizar os grupos extremistas.
Fontes locais contaram ao jornal Carta de Moçambique que, além das três mortes confirmadas, os atacantes raptaram quatro membros de uma mesma família que se encontravam nas machambas (campos agrícolas) entre as aldeias de Impiri e Nipataco.
De acordo com os relatos, entre os raptados estavam uma mulher e os seus três filhos. Posteriormente, dois deles — a mãe e um dos filhos — foram libertos, enquanto os outros dois, um rapaz e uma rapariga, continuam desaparecidos, tendo sido obrigados a seguir com o grupo insurgente.
Grupo insurgente vinha de Nampula e acampou em Metuge
Informações recolhidas no terreno indicam que os atacantes seriam parte de um grupo de insurgentes que vinham da província de Nampula, em trânsito com destino ao distrito de Quissanga, também em Cabo Delgado.
Segundo as mesmas fontes, o grupo acampou durante cerca de duas semanas numa zona próxima à aldeia de Nipataco, antes de realizar o ataque. A sua presença provocou medo generalizado nas comunidades vizinhas, levando várias famílias a abandonar temporariamente as suas aldeias e a procurar refúgio em locais mais seguros.
ACLED confirma movimentação de terroristas na EN1
O Projecto de Monitoria do Conflito em Cabo Delgado (ACLED) — uma base de dados internacional que acompanha incidentes de violência no norte de Moçambique — confirmou, no seu relatório mais recente, que terroristas atravessaram a Estrada Nacional N.º 1 (EN1) entre Impiri e Nanlia, no distrito de Metuge, forçando a fuga em massa da população local.
O documento acrescenta que, durante esse período, dois civis que produziam bebidas alcoólicas à base de cana-de-açúcar foram mortos pelos insurgentes. O Estado Islâmico (EI), através dos seus canais de propaganda, reivindicou a autoria desse ataque, o que reforça a ligação entre os incidentes de Cabo Delgado e a rede terrorista global.
Metuge sob nova pressão insurgente
O distrito de Metuge, que acolhe milhares de deslocados internos vindos de Mocímboa da Praia, Macomia e Quissanga, voltou a ser alvo de ataques desde meados de 2025. Analistas afirmam que os insurgentes estão a reconfigurar as rotas de infiltração, deslocando-se para áreas antes consideradas seguras, como a ligação entre a EN1 e as zonas agrícolas de Metuge.
Apesar da presença das Forças de Defesa e Segurança (FDS) e das tropas estrangeiras da SADC e do Ruanda, grupos dispersos continuam a operar em pequenos contingentes, realizando ataques rápidos e raptos em comunidades isoladas.
Contexto do conflito
Desde Outubro de 2017, Cabo Delgado vive um conflito armado protagonizado por grupos extremistas islâmicos ligados ao Estado Islâmico (EI). A guerra já causou mais de 5 mil mortes e mais de 800 mil deslocados, segundo dados das Nações Unidas.
Embora o Governo moçambicano tenha anunciado, em 2023, avanços significativos no combate ao terrorismo, ataques esporádicos continuam a ocorrer, sobretudo em distritos como Macomia, Muidumbe, Ancuabe e Metuge, demonstrando que a ameaça permanece activa e imprevisível.
Conclusão
O ataque em Impiri reforça o alerta de que o terrorismo em Cabo Delgado ainda não foi erradicado, mas apenas reconfigurado. As populações continuam a viver entre o medo e a esperança, enquanto aguardam por melhor protecção, estabilidade e assistência humanitária nas zonas rurais onde os ataques persistem.

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