A política como palco de confronto… mas também de risco

 

O debate político moçambicano vive um perigoso acirramento de posições, onde adversários transformam a crítica em arma e o interesse partidário em bandeira maior do que o bem comum. Para o académico René Moutinho, é urgente abandonar a lógica de “ganhar com a desgovernação” e construir um Novo Pacto Social baseado em responsabilidade, cooperação e propósito nacional.

ARTIGO DE OPINIÃO — Versão Editada e Profissional

Por: René Moutinho, M.Sc.
Email: renemoutinho@gmail.com

A política como palco de confronto… mas também de risco

Moçambique assiste a um espetáculo perigoso: o extremar de posições na arena política. Partidos atacam partidos, partidos enfrentam o Governo e o Governo reage — enquanto a sociedade observa, afastada ou silenciosa. Muitas das críticas feitas não têm como finalidade melhorar o país, mas sim provocar instabilidade para gerar oportunidades eleitorais. É a política a funcionar como um jogo de soma zero, onde um só “ganha” quando o outro perde.

Mas há aqui um erro fatal de cálculo.

      O Governo e a sociedade não são entidades separadas

A falsa ideia de que Governo e Sociedade são corpos distintos é uma das mais perigosas ilusões da política. Na verdade, ambos fazem parte do mesmo organismo. Se um falha, todo o corpo sofre. Não há vitória possível quando a governação corre mal — nem para partidos, nem para cidadãos, nem para o país.

A ciência política reconhece a governação como um ato essencialmente social. O Governo é uma pequena parte da sociedade encarregada de tratar de grandes assuntos. Não são “aqueles senhores”, somos nós — reduzidos temporariamente àqueles senhores que ali estão.

Como qualquer ser humano, Governos têm limitações e cometem erros. Cabe-nos compreendê-los, mas nunca aceitá-los como permanentes. Errar é humano; normalizá-lo, não.

         A metáfora do organismo: a cabeça e o corpo

O Governo pode ser comparado à cabeça de um organismo: é quem toma decisões e, portanto, quem deve assumir responsabilidades. Já a sociedade civil, a imprensa e a oposição representam os sentidos e os membros — os sistemas de alerta e fiscalização.

Quando a cabeça ignora os sinais do corpo, ou quando o corpo deseja o fracasso da cabeça, instala-se a doença. Socialmente, isso se traduz em crise, paralisia e estagnação.

A crítica construtiva, portanto, não é sabotagem; é cooperação para manter o organismo vivo.

      Redefinir o que significa “vencer” na política

A política moçambicana precisa urgentemente de novos indicadores de vitória. O sucesso de um partido não pode continuar a ser medido pelo fracasso do Governo. Vitória verdadeira é aquela que resulta:

  • em pressão responsável por melhor governação;

  • em propostas alternativas viáveis;

  • em apoio claro e público a políticas governamentais que beneficiem o país.

O Novo Pacto Social propõe abandonar a lógica destrutiva do “quanto pior, melhor” e adoptar a lógica do sucesso colectivo: quando o Governo acerta, Moçambique ganha. E esse é o único ganho que importa.

           A urgência do propósito comum

Somos um só corpo político e social. A paz não nasce da ausência de crítica, mas da existência de um propósito comum: o bem-estar colectivo.

Reconheçamos, finalmente, que somos Um. Só assim poderemos prosperar — cabeça e corpo, Governo e sociedade, Estado e cidadãos — movendo-nos na mesma direcção

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