Moçambique mantém silêncio sobre golpe de Estado na Guiné-Bissau enquanto cresce condenação internacional

O Governo moçambicano, incluindo o Presidente da República, continua sem reagir ao golpe de Estado em curso na Guiné-Bissau, quase 19 horas após os militares tomarem o poder. Países como Brasil, Portugal, Cabo Verde, Gana e Qatar já condenaram oficialmente o acto, que marca o nono golpe ou tentativa de golpe desde a independência da antiga colónia portuguesa, em 1974.

Militares assumem “plenitude dos poderes”

Numa declaração transmitida pela Televisão Pública da Guiné-Bissau, o auto-denominado Comando Militar para a Restauração da Ordem Constitucional anunciou ter assumido todos os poderes do Estado.

Segundo o comunicado, lido por Denis N’tchama, a tomada do poder ocorre após a descoberta de um alegado plano para desestabilizar o país, envolvendo “políticos nacionais e estrangeiros” e “um conhecido barão da droga”.

Entre as medidas anunciadas destacam-se:

  • Destituição imediata do Presidente Umaro Sissoco Embaló

  • Encerramento das instituições do Estado até novas ordens

  • Fecho das fronteiras terrestres, marítimas e aéreas

  • Suspensão do processo eleitoral em curso

  • Imposição de recolher obrigatório das 19h00 às 06h00

  • Suspensão de todas as actividades dos media

Embaló está no poder desde 2020.

Brasil, Portugal, Cabo Verde, Gana e Qatar já reagiramEnquanto Moçambique e Angola permanecem em silêncio, outros países lusófonos e parceiros internacionais já emitiram comunicados.

Brasil

O Ministério das Relações Exteriores “lamenta a suspensão arbitrária” das eleições legislativas e presidenciais e apela ao regresso à ordem constitucional através do diálogo pacífico.

Portugal

O Governo português pede que os intervenientes “se abstenham de actos de violência” e defendem o retorno ao funcionamento regular das instituições, para permitir a conclusão da apuração eleitoral.

Cabo Verde

O Executivo cabo-verdiano manifesta “grande preocupação” e apela à contenção e ao restabelecimento rápido da ordem constitucional.

Qatar

O país do Golfo condena o golpe e solicita que as partes evitem a escalada do conflito e privilegiem meios pacíficos de resolução.

Gana

Gana “condena inequivocamente” a tomada de poder, classificando-a como uma usurpação inconstitucional de autoridade e um ataque directo à democracia.

Nyusi encontra-se retido na Guiné-Bissau

O ex-Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, permanece na Guiné-Bissau, onde chefiava a Missão de Observação Eleitoral da União Africana. Fontes indicam que se encontra “retido” devido ao encerramento do espaço aéreo.

Histórico de instabilidade

A Guiné-Bissau vive um dos mais graves ciclos de instabilidade política na África lusófona. Este é o nono golpe ou tentativa de golpe desde 1974. As duas últimas tentativas, em 2022 e 2023, também tiveram Embaló como alvo.


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