Saimon trabalhava num estaleiro de venda de materiais de construção e, na noite do incidente, permaneceu nas barracas da zona a conviver com amigos após o expediente. Ao regressar a casa, já embriagado, terá tropeçado e adormecido junto à residência onde funciona uma oficina mecânica — precisamente a casa de um dos chefes de quarteirão.
Agressão sem apuramento de factos
Ao notar alguém caído em frente ao seu portão, o chefe de quarteirão aproximou-se. Saimon, incapaz de responder de forma clara, tornou-se alvo de agressões imediatas. Testemunhas relatam que o chefe de quarteirão chamou um segundo líder comunitário de um quarteirão vizinho, e ambos continuaram a agressão.
Inácio Zacarias, familiar da vítima, contou que não houve qualquer tentativa de apurar a identidade ou a razão da presença do jovem no local.
“Foi violência gratuita. Não tentaram perceber quem ele era. Espancaram-no até ele deixar de reagir”, lamentou.
Detenção e falta de assistência adequada
Após o espancamento, os chefes de quarteirão chamaram a polícia. Saimon foi levado para a Primeira Esquadra de Beluluane, onde permaneceu três dias, debilitado e com sinais visíveis de que necessitava de cuidados médicos.
Com a deterioração do seu estado de saúde, foi encaminhado ao Hospital Provincial da Matola. No entanto, após atendimento inicial, foi novamente devolvido à cela, apesar de continuar em condições críticas.
Mais tarde, quando já não conseguia permanecer em pé, as autoridades decidiram libertá-lo, entregando-o aos colegas de trabalho. Estes, preocupados, transportaram-no de urgência para o hospital, mas o jovem não resistiu e morreu a caminho da unidade sanitária.
Chefes de quarteirão detidos
Os dois chefes de quarteirão envolvidos na agressão foram detidos e permanecem nas celas do Comando Distrital de Boane, aguardando a tramitação judicial.
Uma fonte policial confirmou os factos e reconheceu que houve “excesso de zelo” na actuação dos agentes comunitários.
Família sem meios luta pela transladação do corpo
Além da dor da perda, a família enfrenta dificuldades financeiras para trasladar o corpo para Inhambane, onde pretendem realizar o enterro. O custo estimado varia entre 70 e 90 mil meticais.
“Somos pobres, não temos meios. Pedimos apenas apoio para levar o nosso familiar para casa”, explicou Inácio Zacarias Massingue, porta-voz da família.
Moradores de Beluluane descrevem Saimon como um jovem trabalhador, responsável e respeitado na comunidade.
Caso levanta preocupações
O incidente suscita debate sobre:
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abuso de autoridade por parte de líderes comunitários,
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falhas no tratamento de detidos em estado crítico,
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responsabilidades da polícia na garantia de direitos básicos.
A reportagem continuará a acompanhar o desenvolvimento do processo judicial e a situação da transladação do corpo de Saimon Manhice.

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