Katembe submersa: Estrada de Incassane transforma-se em lamaçal e isola milhares de moradores
RESUMO (Meta description)
Durante a época chuvosa, a estrada que liga o Centro de Saúde ao Terminal de Incassane, na Katembe, torna-se praticamente intransitável. Moradores enfrentam lama, poças profundas e ausência de transporte, enquanto exigem intervenção urgente das autoridades municipais.
A estrada que liga o Centro de Saúde ao Terminal de Incassane, na Katembe, voltou a colapsar com a chegada das chuvas. Transformada num extenso lamaçal, a via tem isolado comunidades inteiras, impedido o acesso ao transporte público e exposto, mais uma vez, o abandono das zonas suburbanas de Maputo. Moradores, exaustos, pedem uma intervenção mÃnima, enquanto a vida cotidiana se afunda literalmente na lama.
Um caminho que virou lagoa
O que deveria ser uma simples estrada de terra batida tornou-se um dos sÃmbolos mais evidentes da negligência urbana. Ao longo do trajeto, multiplicam-se valas abertas pelas chuvas, poças profundas com água estagnada e zonas em que caminhar exige equilÃbrio, paciência e, muitas vezes, coragem.
“Estamos a ter dificuldades para nos deslocarmos até a cidade por falta de transporte devido ao mau estado da estrada”, contou Didi, residente de Incassane. “O autocarro já avisou que não segue até à cidade. Não consegue passar.”
Crianças saltam de pedra em pedra, tentando manter os pés secos. Mães carregam os filhos ao colo para evitar que se afundem nas poças. Carros deixam passageiros longe de casa, obrigando-os a terminar o percurso a pé.
“Está péssima a estrada… a pé ou de carro, é tudo um desafio”, lamentou uma moradora que preferiu o anonimato. “Pedimos ao municÃpio que faça algo. Está demais.”
Transporte público à beira do desaparecimento
Os chapas e autocarros que ainda se arriscam na via tornam-se raridade. Motoristas recusam fazer o percurso devido ao risco de avarias, longas demoras e elevados custos de manutenção.
Durante a visita da Revista Integrity, a equipa acompanhou o trajecto dentro de um autocarro que avançava centÃmetro a centÃmetro, lutando contra a lama. Em certo momento, a água começou a entrar pelas escadas do veÃculo, arrancando expressões de espanto e nervosismo dos passageiros.
O autocarro, improvisadamente “flutuante”, avançava sem garantias de chegar ao destino.
“Viu a parte frontal do meu carro? Estamos a sofrer”, desabafou um transportador. “Um troço pequeno leva uma hora. Não queremos asfalto, sabemos que isso leva tempo. Mas pelo menos terraplanagem… nossas famÃlias dependem desta estrada.”
Um problema velho e uma promessa sempre adiada
A situação é recorrente. Todos os anos, com a aproximação da época chuvosa, as mesmas queixas reaparecem, as mesmas dificuldades se intensificam e as mesmas promessas das autoridades se perdem no tempo.
A estrada de Incassane não exige obras monumentais. Moradores pedem apenas o básico: manutenção regular, nivelamento da terra e drenagem adequada — condições mÃnimas de uma gestão pública funcional.
Enquanto isso, o abandono cresce com a lama.
População adapta-se… mas cansa
Sem alternativas, os residentes continuam a criar estratégias improvisadas para sobreviver ao caos diário: caminham longas distâncias, partilham boleias, improvisam trilhas laterais e rezam para que o sol regresse rápido.
Mas, mesmo quando a estrada seca, o sentimento de abandono permanece intacto.
Porque na Katembe, dizem os moradores, a chuva afoga a estrada — e o descaso afoga a esperança.

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