Diz-se por Maputo que queres ser Secretário-Geral da Associação dos Escritores Moçambicanos. Mas, antes de embandeirares em arco a ambição de liderar uma instituição nacional, não seria prudente lavar a cara da tua própria morada? Porque a Tchova Xita Duma, essa nau cultural que deveria velejar com arte, inclusão e memória, encontra-se encalhada num deserto de omissões. Há mais de uma década nas tuas mãos, e hoje nem assembleia convoca, nem debate acolhe, nem estatuto renova. Um feudo? Uma relíquia? Ou apenas o espelho do que podemos esperar da tua liderança?
A literatura, meu caro, é feita de palavras, mas a liderança exige actos. Não basta ter voz para declamar — é preciso ter ombros para carregar sonhos alheios. E quem, por mais de 10 anos, sentou-se na presidência de uma associação que jaz em coma cívico, sem um sopro de democracia interna, sem um acto público de renovação, não pode agora bater à porta da AEMO como se trouxesse o elixir da reinvenção.Quer ser o líder da casa-mãe dos escritores moçambicanos, mas nunca cuidou da sua casa-filha. Quer falar em nome da inclusão, mas silenciou os corpos vivos da Tchova. Quer representar centenas de autores, mas mal representa os sobreviventes do seu próprio projecto associativo.Poeta que não ouve, dirigente que não cede, presidente que não-presta contas — não é com esse currículo que se conduz a AEMO ao futuro. A cultura não é trampolim de vaidades pessoais nem refúgio para quem teme o escrutínio. É terreno fértil onde só floresce quem suja as mãos de terra e presta contas à chuva.Por isso te pergunto, Meigos: seria esse o modelo que tens para a AEMO? Uma instituição empoeirada, sem assembleias, sem alternância, sem pulsar democrático?
Se há um cargo que exige ética, é aquele que serve os escritores — gente que vive da verdade e da memória. E a tua memória associativa, infelizmente, não é das que inspiram. É antes daquelas que inquietam, que deixam no ar o travo do autoritarismo disfarçado de poesia.
Tchova Xita Duma não morreu de causas naturais. Morreu por abandono. Morreu por excesso de ego e défice de gestão. Morreu por falta de democracia. E é esse fantasma que agora bate à porta da AEMO?
Não seria mais honesto reerguer a Tchova, devolver-lhe a dignidade, reabrir-lhe as janelas, permitir-lhe um novo ciclo? AEMO não pode ser a câmara mortuária de ambições falhadas. Que não se transfiram os escombros de uma liderança estagnada para o coração da literatura moçambicana.
Desce, Mano Meigos. Desce da tua torre de papel.
Desce e responde: como vai a Tchova Xita Duma?
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