Cerca de 43.6 mil moçambicanos forçados a deixar suas casas em Cabo Delgado por causa do terrorismo continuam a reconstruir suas vidas em diferentes províncias do norte do país, Nampula e Niassa, com o apoio de organizações religiosas, comunitárias e humanitárias.

Na dianteira deste apoio, estão organizações como o Conselho Cristão de Moçambique (CCM), o Conselho Islâmico de Moçambique, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), entre outras, com o suporte dos governos provinciais e da sociedade civil, segundo escreve a AIM.

Nos primeiros anos, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) liderou a distribuição de alimentos. Com a redução de financiamento internacional, novas estratégias surgiram: formações de curta duração, kits agrícolas e de pesca, apoio ao comércio local e integração comunitária.

OCCM, em Cabo Delgado, disse ter assistido directamente mais de 50 mil deslocados internos oriundos de 10 distritos da província nos últimos cinco anos, em acções que englobam a distribuição de alimentos e utensílios; fornecimento de abrigos temporários; sensibilização comunitária; saneamento e higiene; e apoio psicossocial.

“É um leque de actividades que nos ajudaram a alcançar este número. Um esforço conjunto, com a colaboração de muitos sectores e parceiros”, destacou o coordenador do CCM, Inovaldo Mateus, citado na publicação da AIM.

A formação de curta duração oferecida em centros de reassentamento ajudou a transformar beneficiários em agentes da própria subsistência, e as famílias deslocadas passaram a cultivar alimentos e pescar com o auxílio de kits agrícolas, sementes e barcos distribuídos por parceiros.

“A essência agora é ensinar a pescar, não apenas dar o peixe”, acrescentou Mateus.

Mesmo diante de desafios climáticos como ciclones e secas, segundo a fonte, as comunidades já mostram sinais de recuperação económica e social.

O trauma emocional do deslocamento forçado é profundo, e vem sendo combatido com acções estruturadas de apoio psicossocial. Desde o início da crise, equipes móveis actuam em Macomia e Pemba (Cabo Delgado) e Mecula e Malica (Niassa), oferecendo atendimento psicológico, orientação legal e suporte comunitário.

Ainda segundo a publicação, em Niassa, quando o centro de acolhimento em Malica atingiu sua capacidade, novas famílias foram inseridas directamente nas comunidades. Lá, igrejas ligadas ao CCM organizaram grupos de apoio por faixa etária e género, jovens, mulheres, homens e idosos, que realizam visitas rotineiras e oferecem escuta, oração e suporte emocional.

O Conselho Islâmico de Moçambique também teve papel fundamental, estendendo sua actuação da saúde pública ao apoio psicossocial dos deslocados, com formação de líderes religiosos e inserção directa nas comunidades acolhedoras.

Em Pemba, capital de Cabo Delgado, o apoio ganhou uma nova dimensão: foram criados espaços dedicados ao acolhimento emocional dentro dos centros de reassentamento, além dos chamados Comités de Paz – grupos que promovem a coesão social e o diálogo intergeracional.


“Esses comités ajudam a integrar os jovens, estimular a convivência e reconstruir a confiança dentro das comunidades”, explicou um líder local.

Em Niassa, por exemplo, o acolhimento foi centralizado em um único centro em Malica, que recebeu 43 famílias. Quando esse limite foi atingido, novas famílias foram integradas directamente nas comunidades.

Com isso, surgiu uma abordagem inovadora: o apoio psicossocial liderado pelas próprias igrejas filiadas ao Conselho Cristão.

“Criamos grupos de apoio a partir das nossas igrejas: jovens, mulheres, pais e homens. Cada grupo tem o papel de conversar, escutar e apoiar o

Os grupos actuam de forma rotineira, visitando famílias e oferecendo suporte emocional, especialmente às mulheres, crianças e idosos, o perfil predominante dos deslocados.Já a delegada do Instituto Nacional de Gestão e Redução de Risco de Desastres (INGD) em Niassa, Isabel Cavo, afirmou que a solidariedade diminuiu, mas o sofrimento continua.

“Agora a tendência é relaxar, mas ainda há irmãos que passam dias sem comer, famílias traumatizadas que viram entes queridos executados. O problema não desapareceu, só ficou invisível para quem parou de olhar”, declarou a delegada do INGD.

Cavo deixou um apelo claro, “que todos os moçambicanos retomem o espírito de união e responsabilidade colectiva, como nos primeiros anos da crise”.

Zonas como Meluco e Macomia ainda registam episódios de insegurança, o que mantém activa a necessidade de centros de reassentamento e respostas rápidas. Brigadas móveis multi-sectoriais continuam activas, com apoio médico, jurídico e psicossocial, agora mais integradas às estruturas locais.

“O deslocado não é um número. É uma mãe, um jovem, um avô. E todos eles continuam a precisar de nós — com apoio psicológico, espiritual, material e humano”, concluiu o CCM.