Matola, Moçambique – A multinacional Mozal S.A. anunciou, na terça-feira (16), que irá suspender as suas operações em Moçambique a partir de 15 de Março de 2026, alegando a falta de electricidade suficiente e a preços competitivos, um factor considerado crucial para a produção de alumínio e para a viabilidade da fundição.
A decisão foi comunicada à imprensa pelo Presidente do Conselho de Administração (PCA) da Mozal, Samuel Samo Gudo, durante uma conferência de imprensa realizada na cidade da Matola, província de Maputo. Segundo o dirigente, a suspensão surge após mais de 70 reuniões envolvendo as partes moçambicana e sul-africana, sem que fosse possível alcançar uma solução energética sustentável que permitisse a continuidade das actividades da empresa no País.
Crise energética torna produção inviável
De acordo com Samo Gudo, a Mozal necessita de cerca de 950 megawatts de energia eléctrica para manter a fundição em funcionamento. Apesar de existirem capacidades técnicas, o principal entrave reside nas tarifas e na incapacidade do País em garantir fornecimento estável, agravada pela seca severa que afecta a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), o que já resultou numa redução da produção energética.
“Moçambique não tem, neste momento, condições de continuar a fornecer energia à Mozal de forma competitiva. A seca reduziu significativamente a capacidade da HCB e isso tornou o cenário insustentável”, afirmou o PCA.
O responsável explicou ainda que, mesmo num cenário optimista, a recuperação plena da capacidade da barragem exigiria pelo menos três épocas chuvosas consecutivas, o que afasta uma solução de curto prazo. “Se surgisse uma situação milagrosa, poderia haver um volte-face, mas isso teria de acontecer dentro de 12 meses, o que é pouco provável”, acrescentou.
Despedimento de trabalhadores e impacto social
Com a suspensão das operações, a Mozal prevê o despedimento de cerca de 1.020 trabalhadores até Março de 2026, mantendo apenas cerca de 30 funcionários, maioritariamente ligados à segurança e serviços mínimos. O processo de indemnizações deverá iniciar em Janeiro, estando a empresa também a preparar a comunicação formal à Bolsa de Valores da Austrália, onde se encontra cotada.
A paragem prolongada levanta ainda desafios técnicos. Segundo Samo Gudo, o reinício da produção seria extremamente complexo, uma vez que o enchimento dos 576 potes da fundição exigiria cerca de 12 meses, após um período de inactividade total da maquinaria.
Mozal e o peso na economia moçambicana
Segundo dados da Econometrix (2024), a Mozal contribui actualmente com 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB) de Moçambique, sendo um dos maiores projectos industriais e exportadores do País. Apenas em 2023, a contribuição da empresa para o PIB ascendeu a 681 milhões de dólares norte-americanos, enquanto o Estado arrecadou 21,1 milhões de dólares em receitas fiscais.
Nos últimos nove anos, a Mozal contribuiu com 175,4 milhões de dólares em impostos, representando 1,2% do total de impostos pagos no País. A empresa é responsável por 35% da produção industrial nacional, em média, no mesmo período.
Em termos de emprego, a Mozal contava, em 2023, com 5.284 trabalhadores directos e contratados, sendo estimado que outros 22 mil empregos tenham sido gerados indirectamente através dos efeitos multiplicadores na economia. A empresa sustenta ainda uma vasta cadeia de fornecimento, envolvendo mais de 850 fornecedores locais e regionais.
Investimento social e comunitário
Para além das contribuições fiscais, a Mozal investiu directamente em programas sociais nas áreas de educação, saúde, agronegócio, artes e cultura, desenvolvimento de PME, empreendedorismo e formação profissional. Entre 2015 e 2024, esses investimentos totalizaram cerca de 26,5 milhões de dólares norte-americanos.
Só em 2024, a empresa foi responsável por 19,9% da remuneração total do pessoal no sector industrial em Moçambique, reforçando o seu papel estratégico na economia nacional.
Reacções e alertas sobre o impacto macroeconómico
“Esta suspensão representa um impacto significativo para a economia moçambicana. Haverá uma redução substancial das receitas de exportação e da entrada de divisas, pressionando a balança comercial e o Metical. Em termos macroeconómicos, o crescimento poderá desacelerar e a confiança dos investidores ser negativamente influenciada”, afirmou Vuma.
Para além do impacto macroeconómico, a suspensão deverá afectar directamente o Porto da Matola, os Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), a EDM, a MPDC, bem como os municípios da Matola, Matola-Rio e zonas circunvizinhas, deixando, segundo analistas, uma ferida económica e social profunda e de difícil recuperação.
Futuro incerto
Apesar de garantir que a Mozal não enfrenta problemas de obsolescência tecnológica — podendo operar por mais 50 anos graças ao investimento contínuo em modernização —, o PCA reconheceu que o factor tempo joga contra qualquer possibilidade de reversão da decisão.
A suspensão da Mozal marca assim um dos momentos mais críticos da história industrial recente de Moçambique, levantando sérios desafios ao sector energético, ao emprego e à estabilidade económica do País.


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