Guiné-Bissau Entra em Clima de Tensão na Véspera de Eleições Marcadas por Disputas Institucionais

A Guiné-Bissau volta a viver um momento decisivo sob forte tensão política, à medida que se aproxima de umas das eleições presidenciais consideradas das mais sensíveis desde a consolidação do multipartidarismo. O Presidente Umaro Sissoco Embaló busca um segundo mandato, num contexto marcado por conflitos institucionais, dissoluções sucessivas do Parlamento e denúncias recorrentes de alegadas tentativas de golpe de Estado.

A eventual reeleição de Embaló, que seria inédita em mais de 50 anos de independência, não é vista por analistas como sinal de estabilidade. Pelo contrário, é interpretada como reflexo de uma crise institucional prolongada. O debate em torno da duração do seu mandato — com a oposição a defender que terminou em Fevereiro e o Supremo Tribunal a prolongá-lo até Setembro — expôs fragilidades na interpretação da Constituição e levantou dúvidas sobre a independência judicial.

A alteração do calendário eleitoral, antecipando a votação para antes de 30 de Novembro, reforçou percepções de incerteza e improvisação política.

Cansaço popular e dúvidas sobre o pluralismo

Em Bissau, o ambiente é de desgaste generalizado. A população demonstra frustração acumulada após vários anos de instabilidade e incapacidade das lideranças para assegurar governabilidade contínua.

Apesar da presença de 12 candidatos presidenciais e 14 formações concorrentes às legislativas, o suposto pluralismo é alvo de críticas. Especialistas alertam que a não participação de importantes coligações da oposição pode comprometer a credibilidade do processo eleitoral. As tensões históricas entre grupos militares — factor determinante em vários episódios de instabilidade ao longo das últimas décadas — continuam presentes e ampliam o clima de incerteza.

Para o analista Augusto Nansambe, o país enfrenta um momento crítico:
“O modelo democrático que o país tentou construir há quase três décadas parece hoje distorcido”, afirma, num diagnóstico que reflecte o sentimento de parte da sociedade.

Entre esperança e receio

Mesmo num ambiente de apreensão, há cidadãos que mantêm expectativas positivas. Marcos Da Costa, morador de Bissau, manifesta esperança num processo pacífico “para podermos viver todos como guineenses”. A sua visão simboliza tanto a resiliência da população como a fragilidade das garantias oferecidas pela classe política.

Um teste decisivo à democracia guineense

Num país marcado por golpes de Estado, disputas entre órgãos de soberania e ciclos rápidos de crise, estas eleições representam mais do que a escolha de um novo presidente. São vistas como um teste crucial à capacidade da Guiné-Bissau de romper com décadas de instabilidade e consolidar, finalmente, uma democracia funcional.


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